terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Entrevista ! (2ª Edição)

Essa é com Mr. Keith Moon

Rolling Stone - 21/12/1972

Keith Moon contra-ataca

Uma entrevista de multidecibéis com o selvagem do Who
por Jerry Hopkins
tradução por Vinícius Mattoso
É PROVAVELMENTE CONVENIENTE QUE KEITH Moon toque o instrumento mais agressivo, a bateria, num dos grupos mais explosivos, o Who, pois Moon parece visivelmente mais ultrajante e violento do que a maioria de seus contemporâneos. Em seu rastro por um período de dez anos, mais de um terço de sua vida, ele deixou uma trilha de garrafas vazias de Courvoisier, kits de bateria desmembrados, automóveis arruinados e quartos de hotel destruídos, pontuando cada incidente com um uivo de completo prazer e alegria.
Existem incontáveis "Histórias de Keith Moon" circulando por aí, e Keith relembra várias delas nesta entrevista. Infelizmente, muito se perde ao transpormos Moon para o papel. Seus gestos enérgicos em torno da sala, suas várias imitações vocais e sotaques, a agitação, o rosto faltando um dente, a cantoria e as danças, os contagiantes ataques de riso, tudo tem de ser experimentado. Assim como sua moderna casa de 150,000 dólares situada no terreno de um antigo mosteiro a uma hora de Londres, em seu verde e valorizado cinturão suburbano. As paredes do bar foram pintadas com um tema de heróis e vilões da Marvel Comics, e o teto, suspenso como a tenda de um sultão.
A sala é um grandioso e ricamente estofado "poço de bate-papo", com uma televisão em cores e uma lareira impecavelmente limpa que nunca foi usada. Quase não há móveis na casa. Mas vemos um albatroz empalhado, um tapete de urso polar, diversos rifles, um velho jukebox e um sistema de som capaz de mandar música em multidecibéis para distâncias que vão muito além de sua propriedade de sete acres.
De fora, sua casa se parece uma coleção de pirâmides alinhadas, pintadas num branco reluzente. De um lado está uma árvore tão larga que teve de ser baixada por dois helicópteros. Do outro, operários atualmente escavam uma piscina que será azulejada com mármore e oferecerá ao mergulhador ocasional as últimas melodias de sucesso. Quando eu cheguei a governanta da casa, sogra de Moon, estava na Espanha a passeio.
Seu cabeludo mecânico e motorista, Dougal, estava trabalhando no motor de um Chrysler 1936, estacionado entre o Jaguar XKE e a Ferrari Dino. Sua esposa, Kim, e sua filha, Mandy, de 6 anos de idade, não estavam em casa. E o lorde do feudo estava caminhando com um rifle, atirando a esmo nos galhos altos de um castanheiro.
Como você entrou para o The Who?
Primeiro eles se chamavam Detours, depois Who, depois High Numbers, depois Who novamente. Eu entrei na segunda fase, quando eles estavam mudando de Detours para Who. Eu estava em outro grupo ao mesmo tempo chamado Beachcombers.
Esse nome significa que eles tocavam surf music?
Passou a significar quando eu entrei, é. AH-HAHAHA!
Você já surfou?
Uma vez, e quase me matei. Estávamos no Havaí, e eu disse, preciso surfar. Jesus, eu passei anos comprando discos de surf music, sabe, eu tinha que tentar. Então eu aluguei uma prancha e entrei na água com todos aqueles caras. Remei até um ponto bom e de repente apareceu aquela onda enorme. Eu perguntei a um dos caras, "O que que eu faço?" E ele respondeu [Moon começa a falar com um sotaque de americano], "Bem, certo, velho, tudo que você tem que fazer quando ver a onda chegando, ela acerta, cara, ela acerta, e você vai querer viajar relativamente na mesma velocidade, então você rema." Perfeitamente lógico. Eu disse, ótimo. Então aquele muro sólido de água apareceu. De repente aquela maldita coisa me acerta bem no traseiro, e eu passei a nadar de duas milhas por hora para duas centenas! Lá estava eu me segurando nas beiradas da porra da prancha, veja bem, e eu ouço: "Fica em pé, cara!" Ficar em pé? Então eu me levantei e olhei pra cima e tinha água pra tudo que é lado em volta de mim, eu estava num grande funil, uma espécie de tubo gigante de água. Daí eu vi o recife de corais se aproximando. Eu fiquei de pé por apenas alguns segundos, mas pareceu como uma vida inteira aquela porra. Eu caí, a onda bateu no recife, a prancha virou ao contrário e foi jogada no ar pela água. Eu submergi, balancei minha cabeça e relaxei. Quando eu olho pra cima vejo a maldita prancha vindo direto pra minha cabeça. Eu mergulhei e ela ssssshhwwwoooom! Eu tenho uma falha no cabelo até hoje onde aquilo acertou meu crânio. AH-HA-HAHA-HA-ha-ha-ha! Jan e Dean nunca contaram que seria assim. Certamente que não!
Então o Beachcombers era uma banda de surf music, mais ou menos?
Mais ou menos. Baseava-se mais nos vocais do que nos instrumentos. E como eu sou um cantor horrível . . . quer dizer, os caras não me deixavam cantar. Eu não os culpo. Eu às vezes me distraía e entrava na onda, e eles tinham que cair em mim: "Moon . . . fora!" Digo, eu inclusive sou expulso do palco durante "Behind Blue Eyes", só em caso de eu me distrair. É o único número do Who que realmente necessita de harmonias precisas. O resto é tudo: "YEEEAAAAHHHH-Magic-bus!" Nós gritamos. Não tem problema. Então eles me expulsam durante "Blue Eyes" porque ou eu estou tocando e atrapalho os rapazes, ou eu tento cantar e realmente os atrapalho.De qualquer maneira, eu decidi que meu talento como baterista estava sendo desperdiçado em um grupo harmônico fraquinho como o Beachcombers, e a única banda que eu conheci que soava tão barulhenta quanto eu era o Detours. Então quando eu fiquei sabendo que o baterista deles tinha saído, comecei a pensar num plano para me infiltrar no grupo. Eles iam tocar num pub perto da minha casa, o Oldfield. Eu fui até lá, e eles estavam com um baterista de sessão. Eu subi no palco e disse, "Olha, eu posso fazer melhor do que ele". Eles disseram, vai em frente, e eu sentei na bateria do outro cara e toquei uma canção -- "Road Runner". Eu tinha bebido vários drinks pra tomar coragem, e quando eu subi no palco entrei arrrrrggGHHHHHHH na bateria, quebrei o pedal do bumbo e arrebentei duas peles e caí fora. Eu achei que minha chance já era, fiquei com o maior medo. Posteriormente eu estava sentado no bar, e Pete apareceu. Ele falou, "Você . . . chegaí". Eu disse, tão gentil quanto possível: "Sim sim?". E Roger, que era o líder então, perguntou, "O que você vai fazer segunda-feira que vem?". Eu respondi, "Nada". Eu trabalhava durante o dia, vendendo emplastro. Ele disse, "Você vai ter que largar o emprego". E eu, "Tudo bem, eu largo o emprego". Roger disse, "Temos um show na segunda. Se quiser, te buscamos de van". Eu respondi, "Certo". Eles disseram que chegariam às sete. E foi isso. Ninguém jamais disse, "Você está dentro". Eles simplesmente perguntaram, "O que você vai fazer segunda-feira?".
Vocês estavam sendo empresariados por Kit Lambert e Chris Stamp nessa época?
Não, estávamos com um homem que fabricava maçanetas -- jovens, inocentes garotos que éramos. As sugestões daquele homem eram as únicas que tínhamos, exceto as da platéia. Realmente não tínhamos fé em nós mesmos então. Depois, quando começamos a nos firmar, as sugestões dele começaram a parecer ridículas, então decidimos nos livrar dele, e Kit Lambert apareceu para nos ver tocar no Railway 'Otel em 'Arrow. Tivemos um encontro. Não fomos um com a fuça dos outros no começo, pra falar a verdade. Kit e Chris. Eles apareceram juntos. E eles eram . . . são . . . tão incongruentes como uma equipe quanto nós. Você tem Chris de um lado [começa a falar num sotaque ininteligível do oeste de Londres]: "Ah falou, que se dane, só, só, soca ele na cabeça, chuta ele nas bolas e no resto tudo". E Kit dizia [mudando para um tom formal], "Bem, eu não concordo, Chris; o problema é que. . . a coisa toda precisa ser analisada em cada mínimo detalhe". Aquelas pessoas eram perfeitas para nós, porque tinha eu, irrequieto, chapado de bolinhas, chapado de qualquer coisa que eu pudesse botar as mãos . . . e tinha Pete, muito sério, nunca ria, sempre tranqüilo, um maconheiro. Eu estava funcionando numa velocidade dez vezes superior do que Pete. E Kit e Chris eram como o epíteto do que éramos. Quando vocês assinaram com eles, a imagem Mod foi. . .. . . forçada em nós. Era muito desonesta. A coisa mod foi idéia do Kit. Fomos todos mandados para um cabeleireiro, Robert James, um rapaz absolutamente simpático. Depois fomos mandados para Carnaby Street com mais dinheiro no bolso do que havíamos visto em nossas vidas, tipo umas cem libras. Essa era a Londres do agito. A maioria de nosso público era mod, chapado de bolinha como nós, veja você. Não estávamos nessa de roupas; nosso negócio era música. Kit achou que deveríamos nos identificar mais com nosso público. Casacos ajustados cinco polegadas nas laterais. Quatro não era o bastante. Seis era demais. Cinco era perfeito. As calças ficavam três polegadas abaixo da cintura. Era nosso uniforme.
Seu lema na época era "maximum R&B". O que isso queria dizer?
Tocávamos bastante Bo Diddley, Chuck Berry, Elmore James, B.B. King, e eles eram R&B ao máximo. Não havia definição melhor. A maioria das canções que tocávamos eram deles. Pete só entrou em sua veia de compositor depois de "Can't Explain". Obviamente qualquer canção que tocávamos ficava diferente, não tentávamos copiar direto do disco. A gente a "Whozava", então o resultado era obra do Who, não uma cópia.
Como "Summertime Blues".
Exatamente. Esta é uma música que foi "Whozada".
Como surgiu o efeito de gagueira em "My Generation"?
Pete escreveu a letra e a entregou para Roger no estúdio. Ele não havia lido antes, não estava familiarizado com os versos, então quando ele leu aquilo pela primeira vez, gaguejou. Kit estava nos produzindo na época, e quando Roger gaguejou, Kit disse, "Vamos manter assim; mantenha o gaguejar". Quando percebemos o que havia acontecido, isso nos embasbacou por completo. E aconteceu simplesmente porque Roger não conseguia ler os versos.
A primeira turnê norte-americana. Você se lembra dela com ternura?
Pra mim foi uma turnê de descobertas. Foram três meses com o 'Erman's 'Ermits. Abrir para o 'Ermits era perfeito. Era uma posição vantajosa para nós. Não estávamos na linha de frente. Se o lugar vendesse apenas uma porção mínima do que poderia ter vendido, a culpa nunca era nossa, era do 'Erman 'Ermits. Não tínhamos essa responsabilidade. Tivemos tempo para descobrir. Encontramos as melhores cidades.
E quais eram?
Para o Who eram Nova York, Chicago, Detroit, Los Angeles, São Francisco e Cleveland. Elas tinham o melhor público para nós.
Foi nessa turnê que aconteceu sua infame festa de aniversário?
Sim. Foi assim que eu perdi meu dente da frente. Em Flint, Michigan. Tínhamos um show naquela noite. Estávamos todos em volta da piscina do 'Oliday Inn, eu e os 'Erman 'Ermits. Eu estava fazendo vinte e um anos, e eles começaram e me dar presentes. Alguém me deu um bar portátil e outro, a bebida portátil. Eu comecei a beber lá pelas dez da manhã, e não me lembro do show. Depois a gravadora reservou um quarto enorme no hotel, uma das salas de conferência, para uma festa. Com o passar do tempo aquilo foi ficando mais e mais barulhento, todo mundo começou a ficar fora de si, digamos, alucinados. A piscina era o alvo óbvio. Todo mundo começou a pular de roupa e tudo na piscina. A Premier havia me dado um bolo de aniversário gigantesco, montado como se fosse umas cinco caixas de bateria, uma em cima da outra. Quando a festa começou a se degenerar numa orgia, eu peguei o bolo, as cinco camadas, e joguei pra tudo quanto é lado. O povo começou a pegar os pedaços e a arremessar uns nos outros. Todo mundo ficou coberto de marshmallow e bolo de fruta. O gerente ouviu a bagunça e apareceu. Lá estava seu imenso tapete irrevogavelmente manchado de cobertura de bolo pisado, e todo mundo dançando em cima dele com as calças de fora. Na hora em que o xerife chegou eu estava lá parado de cuecas. Eu corri, pulei no primeiro carro que apareceu na minha frente, um Lincoln Continental novo em folha. Ele estava estacionado numa subidinha, e quando eu soltei o freio de mão aquilo começou a descer, arrebentou uma cerca e caiu direto na piscina do 'Oliday Inn, comigo dentro. AH-HA-HA-HA-HA!Então lá estava eu, sentado no banco do motorista de um Lincoln Continental submerso. E a água começou a entrar pelos malditos buracos dos pedais no chão, sabe, se infiltrando pelas janelas. Em um momento brilhante de lógica eu pensei, "Bem, eu não posso abrir as portas até que a pressão se iguale". É incrível como eu fui me lembrar daquelas coisas da aula de física! Eu sabia que tinha que esperar até que a pressão fosse a mesma. E lá estava eu, pensando na minha situação, enquanto a água começava a entrar no meu nariz. Hoje em dia eu consigo pensar em maneiras menos ultrajantes de bater as botas do que me afogar num Lincoln Continental na piscina do 'Oliday Inn, mas na época eu não pensava em hipótese alguma em morrer. Não teve nada daquilo da vida-inteira-passando-diante-dos-meus-olhos-em-um-flash. Eu estava ocupado planejando. Eu sabia que, se eu entrasse em pânico, já era. Então quando só tinha ar o bastante no topo do carro pra um fôlego, eu enchi meus pulmões, escancarei a porta e nadei até o topo da piscina. Eu imaginei que uma multidão razoável já teria se reunido ali. Afinal de contas, eu estava debaixo d'água fazia algum tempo. Eu imaginei que eles estariam tão felizes por eu estar vivo que me perdoariam pelo Lincoln Continental. Mas não. Só tinha uma pessoa parada ali e era o limpador de piscina, ele tinha acabado de limpar aquilo de manhã e estava furioso.Então eu voltei pra festa, todo respingando, ainda de cueca. A primeira pessoa que eu vejo é o xerife, ele e sua arma na mão. Sem essa! Eu saí correndo, e quando estava quase chegando na porta, escorreguei num pedaço de bolo e caí de cara no chão e perdi meu dente. Ah-ha-ha HA-HA-HAHAHA!Eu passei o resto da noite sob custódia do xerife no dentista. O dentista não podia me dar nenhum anestésico porque eu já estava muito louco. Então ele teve que arrancar o que sobrou do dente e botar um falso no lugar, e no dia seguinte eu passei algumas horas no xadrez. Os rapazes me fretaram um avião porque tiveram que ir embora num vôo mais cedo. O xerife me levou na viatura, me botou no avião e disse, [sotaque americano], "Filho, nunca mais apareça em Flint, Michigan, novamente". Eu respondi, "Meu caro, eu nem sonharia com isso", enquanto sibilava entre meu dente novo. AH-HAHA HAHAHA!Nessa hora que eu soube quão destrutivos fomos. Durante a festa alguém pegou todos os extintores e os esvaziou em cima dos carros no estacionamento. Seis deles tiveram que ganhar pintura nova; a tinta derreteu toda. Também destruímos um piano. O destruímos completamente. Reduzido a lenha. E não se esqueça do tapete. E o Lincoln Continental na piscina. No final eu recebi uma conta de US$ 24,000. AH-HAHAHAHA! Eu não estava ganhando nem metade disso na turnê, e gastei tudo indo pra Flint, Michigan. Fiquei endividado até as sobrancelhas depois dessa. Felizmente, os 'Erman's 'Ermits e os rapazes dividiram tudo; umas 30 pessoas deram cem dólares cada. Foi como uma cerimônia religiosa quando todos vieram e depositaram cem dólares num chapelão, e mandamos aquilo para o 'Oliday Inn com um cartãozinho de saudações escrito "BOLAS" em volta dele -- e as palavras "Nos vemos em breve". Ah-ha-ha-HA-HA Ha ho-HAHAHA!
Você não pode ter destruído tantos quartos de hotel quanto dizem.
Quer apostar? Houve uma época em que. . . Muitas. É. Eu fico entediado, veja você. Teve uma vez em Saskatoon, no Canadá. Era outro 'Oliday Inn, e eu estava entediado. Agora, quando eu fico assim, eu me revolto. Eu digo, "QUE SE DANE, QUE SE DANE TUDO ISSO!". E saco minha machadinha e deixo o quarto em pedaços. A televisão. As cadeiras. A penteadeira. As portas. A cama. E tudo o mais. Ah-ha-ha-HAHAHAHAHAHAHAHAHA HAHAHA! Acontece o tempo todo.
Eu sempre ouvi dizer que quem deu início a destruição no palco foi Pete, mas você faz parecer que foi idéia sua. Foi?
Reza a lenda que Pete bateu o braço da guitarra no teto quando ele pulou muito alto, mas não foi isso. Acontecia quando alguém ficava puto com o show, com a maneira como as coisas estavam indo. Quando Pete destruía sua guitarra era porque ele estava puto. Quando eu destruía minha bateria, era porque eu estava puto. Ficávamos frustrados. Você está lá se esforçando o máximo possível pra continuar com a porra da música, pra pegar a platéia pelas bolas, pra transformar aquilo num acontecimento. Quando você faz tudo aquilo, quando você se mata e dá ao público tudo que é possível, e eles não dão nada de volta, é aí que a porra do instrumento vai embora, porque: "Seus desgraçados de merda! Estamos aqui nos matando! E vocês não dão nada de volta!".Essa é uma razão de os instrumentos serem destruídos. Outra é quando um membro do grupo está chapado demais pra dar seu melhor. Nessas horas ele está deixando os outros três na mão. Em muitos casos sou eu, por beber demais. Sabe como é, exagerando na hora errada. Então Pete ou Roger ou John diz, "Seu babaca! Você deixou a gente na mão, porra! Miserável, se quer chapar, por que não espera até depois do show!?".
Mas todas as vezes que você destruía seu kit de bateria, ou Pete arrebentava sua guitarra, era movido pela raiva?
Nem sempre. Era algo esperado -- como uma canção, um hit número um. Uma vez que você tenha feito aquilo, se compromete com aquilo. Você tem que tocar. Porque há certas pessoas na platéia que comparecem só para ouvir aquela música em particular. Cada parte da apresentação funciona para uma parcela do público, e a apresentação como um todo tem que funcionar para a platéia inteira.
Isso não saía caro demais?
Caro pra cacete. Estávamos destruindo provavelmente dez vezes, senão mais, do que ganhávamos. Temos feito sucesso há dez anos, mas só lucramos nos últimos três. Levamos cinco anos para pagar três anos, nosso período mais destrutivo. Tivemos que pagar por tudo aquilo depois. Músicos são célebres por não pagarem suas contas. E não éramos exceção. Adiamos aquilo tanto quanto possível. Mas quando as sentenças começaram a chegar, as intimações, as ações, os confiscos de equipamento, então tivemos que pagar. E pagamos por cinco anos.
E então abandonaram a rotina de destruição?
Abandonamos como uma rotina teatral. Ainda destruímos nosso equipamento ocasionalmente, mas não de propósito. Cometemos um dos pecados capitais: acabamos deixando a atuação tomar o lugar da música. Não se pode deixar isso acontecer. A música deve vir primeiro. Então nós olhamos pra trás e dissemos, "Bom, essa porra tem que parar, não podemos ter isso em todos os shows . . .". Porque estava ficando repetitivo demais. A espontaneidade se fora.
Já houve brigas sobre quem seria o melhor porta-voz para o grupo?
Só no começo. Durante uma época Roger foi o porta-voz do grupo. Agora a maioria diz que é o Pete. Acontece que, não tem importância . . . quem diz o quê. Já demos importância demais pra isso de porta-voz e quem seria esse porta-voz. Não mais. Quem quer que seja, é só um representante da organização, e uma boca é tão boa quanto a outra.Vocês parecem bastante receptivos com a imprensa.Nós fazemos qualquer negócio. AH-HAHAHAHAHAHA! Algumas pessoas dizem que eu faço qualquer coisa pela imprensa, é verdade . . . que eu apareço demais. Eu só quero me divertir.
Em algum momento . . .
Teve uma vez que Keith Altham e Chris Williams, que cuidam da nossa divulgação, me ligaram e disseram que estariam em seu escritório às três horas para uma entrevista. Bem, você sabe, os pubs fecham às três, então eu acabei me atrasando um pouco. Eu voltei pra minha sala na Track [Records, a gravadora do grupo] e só aí me lembrei: tinha esquecido da entrevista. Então, uhhhh: Oh, Cristo, eles vão ficar putos. Bem em frente tinha uma farmácia, então eu mandei Dougal, meu motorista, ir lá comprar uns rolos de gaze e esparadrapo, enrolei aquilo tudo na perna e no braço e arrumei uma muleta. E lá fui eu para a entrevista. "Desculpem o atraso, mas só agora o hospital me liberou".Eu havia ligado mais cedo e contado a eles que tinha sido atropelado por um ônibus na Oxford Street. Eles não acharam isso muito fora-do-comum. Eu acho que eles assumiram a atitude de que qualquer coisa é valida com Moon, veja só. Então eu entrei no escritório . . . arrastei-me pra dentro, na verdade, e eles perguntaram, "Como isso foi acontecer?". Eu respondi, "Eu estava atravessando a Oxford Street e um número oito de Shepherd's Bush me acertou no traseiro e me arremessou direto pra Oxford Circus". Então Keith e Chris resolveram cancelar a entrevista. Eu disse que não, e eles fizeram a gentileza de me carregar pelos quatro lances de escada até a rua. Eles pensaram que eu tinha subido tudo aquilo por conta própria, na minha muleta, entende.Então eles me carregaram escada abaixo e estávamos andando, e eu lá capengando pela rua novamente, e um desgraçado de um caminhão aparece bem na hora que eu estou atravessando e começa a buzinar na minha cara. Eu disse, "Agüenta aí, colega. Eu não consigo ir mais rápido com essas pernas", e Keith vai até o motorista: "Seu bastardo desalmado, não vê que este homem está ferido! Você não tem coração, não tem alma, seu bastardo! Tentando atropelar um aleijado!".Nós começamos a entrevista e no meio, depois de uns quatro drinks, eu arranquei os curativos, pulei na cadeira e comecei a dançar. Ah-HAHAHAHAH-ha-haHAHA! HAHA!
Você já se machucou em alguma de suas brincadeiras? Além de perder o dente da frente?
Eu quebrei a clavícula uma vez. Foi no meu hotel, um hotel que eu tinha, no Natal. Eu desmaiei na frente da fogueira às quatro da madrugada e uns amigos decidiram me levar pra cama, e eles estavam tão ruins quanto eu, mas ainda conseguiam ficar de pé. Ou quase. Um deles segurou minha cabeça, outro os pés, e eles tentaram me carregar pelas escadas. Eles subiram comigo por dois lances e então me largaram, os dois, quebrando minha clavícula, entende. Mas eu só fui ficar sabendo quando acordei no dia seguinte e tentei vestir a porra da camisa. Eu desabei direto na merda do chão.Acontece que . . . eu deveria gravar um programa de TV, o especial de ano-novo do Top of the Pops, e dois dias antes eu estava com meu braço todo enfaixado e não poderia tocar. Eu fui até meu médico, querido Doutor Robert, e ele me deu uma injeção no dia da apresentação para que eu não sentisse nada. Eu coloquei uma blusa por cima do gesso, grudei a baqueta na mão com fita adesiva, sentei por trás do kit e pedi para o Sr. Vivian Stanshall amarrar uma corda no meu pulso. Nós então jogamos a corda em volta do apoio das lâmpadas lá em cima, e ficamos de olho no monitor; sempre que a câmera me focalizava, eu dava o sinal pra Viv, e ele puxava a corda, fazendo com que meu braço direito se erguesse e caísse nos pratos. AH ah ah ah HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!Essas situações burlescas . . . eu estou sempre ligado a elas. Sempre acontecem como se pudessem ter sido parte de um quadro do Gordo e o Magro. E sempre acontecem comigo. AAAAHhhhhh-HAHAHA-HO-HAHA ha! Eu acho que eu espero inconscientemente que elas aconteçam, e elas acontecem.
Essa é a imagem que você tem de si mesmo?
Suponho que para a maioria das pessoas eu sou provavelmente visto como um idiota amigável . . . um brincalhão genial. Acho que eu devo ser uma vítima das circunstâncias, na verdade. Na maioria das vezes é culpa minha. Eu sou uma vítima de minhas próprias piadas colocadas em prática. Suponho que isso reflita uma atitude um pouco egoísta: eu gosto de ser o protagonista de meus próprios feitos. De nove entre dez vezes, eu acabo sendo. Eu preparo armadilhas e caio nelas. Oh-ha-ha-ha. HA-HA- HA-HA-HA! Obviamente, o maior perigo é se tornar uma paródia.
Sua esposa, Kim, deve ser extraordinariamente simpática e paciente.
Ela é.
Ela meio que leva isso numa boa. Como você a conheceu?
Eh-eh-eheeeee-eh-eh-eh. Ah-HA-HA-HA-HAHA-HA-HA! Eu a conheci em Bournemouth quando estava fazendo um show. Ela tinha dezesseis, e freqüentava o club onde tocávamos, o Disc. Um tempo depois quando eu desci para vê-la, eu estava no trem e Rod Stewart subiu a bordo. Isso foi a uns dez anos. Começamos a conversar, e fomos para o vagão-bar. Ele era Rod "The Mod" Stewart naquela época gloriosa, e estava trabalhando com Long John Baldry. Ele estava tocando em muitas discotecas pequenas e pubs, fazendo o mesmo tipo de trabalho que nós. Eu perguntei a Rod, "Pra onde você está indo?". Ele respondeu, "Bornemouth". "Eu também", falei. "Estou indo visitar minha garota". Ele retrucou, "Eu também". Então eu mostrei a Rod uma foto da Kim e ele disse, "É ... é essa mesmo". HAHAHAHAHAHAHA!
O que aconteceu?
Eu não me lembro. Estávamos no vagão de bebidas, e ambos ficamos paralizados. Eu só me lembro da viagem de volta. Oh-hee-HA-HA-HAHA!
Por que sua sogra veio morar com vocês?
Ela é minha governanta. E uma ótima cozinheira. Veja você, eu fui um seqüestrador. Raptei sua filha aos 16, direto do convento, e ela ainda não havia aprendido a cozinhar, então eu disse, "Traga sua mãe pra cá". Ela está morando conosco há quase um ano. Ela não é aquela espécie comum de sogra. Na minha casa não há espécie comum de coisa alguma.
Você tem algum baterista "favorito"?
Não muitos. D.J. Fontana é um deles. Vamos ver . . . os bateristas que eu respeito são Eric Delaney e Bob Henrit e . . . eu tenho uma lista enorme, na verdade, e cada um nela é por razões diferentes. Tecnicamente, Joe Morello é perfeito. Na verdade eu não tenho um baterista favorito. Eu tenho trechos de bateria favoritos, é isso. Eu nunca pegaria um LP de um baterista e diria que adoro tudo que ele faz, porque não seria verdade.
Como você começou a tocar bateria?
Jesus Cristo, acho que eu ganhei uma de brinde no pacote de cereal. Ah-Ha-HA-HA-HA-HA-HAHA! Mas não. . . solos de bateria são chatos pra cacete. Qualquer tipo de solo é. Isso tira a identidade do grupo.
Quanto das canções são um esforço grupal?
O que você muda nas demos na hora de gravar?Não muito. Porque Pete sabe. Quando Pete faz algo, aquilo soa como o Who. As partes da bateria são minhas partes, mesmo se é Pete tocando bateria. Ele toca no mesmo estilo que eu. Ele faz meus floreios. O mesmo para as partes do baixo, e a guitarra, é claro, é dele. Só os vocais mudam um pouco.
Muitas canções são rejeitadas?
Não. Ele obviamente compõe muito mais . . . quer dizer, não são todas as canções que ele escreve que se encaixam no Who. Quando ele tem uma idéia que ele acha ser boa para o grupo, ele traz aquilo e nós tentamos. E ele não costuma estar errado.
Vocês ensaiam muito?
Estamos sempre preparados meticulosamente para os shows. Mas ensaiávamos muito mais antes do que agora. Agora alcançamos um ápice na banda . . . bem, alcançamos isso já faz tempo . . . então hoje Pete toca pra gente um número, ou ouvimos um número, e podemos tirá-lo quase sempre, senão da primeira vez, na segunda ou na terceira, e na quarta ou quinta aquilo começa a tomar forma. Nos velhos tempos ainda estávamos construindo o grupo, ainda desenvolvendo nosso relacionamento.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Lado A - A História Dos Vinis do Who (Edição 2)


Quadrophênia...é um ótimo disco na minha opinião, e para alguns fãs, ele é o melhor do Who, em toda a sua "Era Moon", que é uma opinião que eu concordo, mais não vou falar disso agora !

"Quadróphênia é uma "Rockoperah" (Keith Moon-Vide Leeds) sobre Jimmy, um garoto MOD que tem esquizofrênia dupla (quatro personalidades), e com elas convive todos os dias, desde os de "glória"...até os "frágeis", e assim segue a história até ele ser expulso de casa, e tomar um expresso para Brighton, aonde em 64' houve a famosa "Batalha Das Docas" aonde aporximadamente 100.000 Mod's e Rocker's se degladiaram até a morte...ou quase ! e assim eu tento resumir um dos melhores discos do Who, em que eu me empolgo desde a primeira onda de amar, até o último agudo de Sir. Daltrey !"


Lado A (Ou 1)

1-I'm The Sea
2-The Real Me
3-Quadrophênia
4-Cut My Hair
5-The Punk Meets The Godfather


Lado B (ou 2)

1-I'm One
2-The Dirty Jobs
3-Helpless Dancer
4-Is It In My Head
5-I've Had Enough


Lado C (ou 3)
1-5:15
2-Sea And Sand
3-Drowned
4-Bell Boy



Lado D (ou 4)

1-Doctor Jimmy
2-The Rock
3-Love, Reign O'er Me

as passagens de músicas são ótimas, os arranjos de metais, os efeitos de gaivotas e todo aquele mar...perfeitos ! Um ótimo vinil, tanto o importado, quanto o nacional, tendo poucos riscos, stéreo ou mono, o som é o mesmo (por experiência própria), e uma música que me marcou nesse vinil foi "Sea 'n' Sand", pois foi a 1ª que eu ouvi dessa Rockoperah, e se a ao vivo é foda, imagina a de estúdio !

e é isso aí ! aqui acaba a a "epopéia quadrophênica"...achou pouco ? Então tenta resumir um album foda pra você ver

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Continuação ! "The Who Sings My Generation"

"Individualmente, The Who consiste em um cantor, Roger Daltry (N. Do E: todos os erros serão colocados, do jeito que estão), 20 anos, com um estilo todo pessoal de interpretação, e que dança por todos os lados do palc enquanto canta, geralmente imitando os passos da platéia durante a apresentação deles; o guitarrista baixo John Entwhsitle, 19 anos, é quieto, melancólico, movendo-se raramente, mas, como ele mesmo diz, se alguém não servisse de âncora, o grupo todo teria enfraquecido todo e voado; baterista Keith Moon, 18 anos, o bebê do grupo, provàvelmente um dos bateritas mais imitados da Inglaterra, não só toca, como também "ataca" a bateria e, invàriavelmente, termina os espetáculo com os tambores sem couro: e, finalmente há o guitarrista principal Pete Townshend, 19 anos, que, além de haver escrito todos os sucessos do grupo, é o mais original guitarrista do mundo, pois quebra a guitarra no microfone, a fim de obter todos os sons possíveis. Desta maneira, desde que se juntou aos Who, já quebrou quatorze guitarras !

domingo, 9 de dezembro de 2007

Continuação !

Como Prometido, o texto !

The Who Sings My Generation

"1965 ficará marcado na história como o ano de The Who. Foi em janeiro desse ano que um disco Decca, Intitulado "I Can't Explain", caiu no agrado dos discófilos e tornou-se um "best-seller". Os cantores eram conhecidos simplesmente como The Who. Veio então a pergunta inevitável: o que é The Who, ou, mais simplesmente, quem é The Who ?
The Who é um quarteto vocal e instrumental comumente descrito como quatro rapazes firmes e modernos. Eles todos vieram de Shepard's Bush, parte Oeste de Londres, um lugar onde a maioria dos rapazes prefere juntar-se aos transviados da rua, do que tocar num conjunto. Emboracada um deles esteja no meio musical há muitos anos, reuniram-se no princípio de 1964..."

Continua !

sábado, 8 de dezembro de 2007

Lado A - A História Dos Vinis do Who (Edição 1)

ok whooligan, apesar do nome bem gay, eu pensei em falar todo sabado de um vinil do Who, coisa que eu sei falar muito bem !!!

e logo hoje eu resolvi falar desse assunto por um motivo, hoje eu posso dizer que é um ótimo dia pra mim, e seria pra qualquer pessoa fã do Who ! Hoje eu comprei o 1º do Who: The Who Sings My Generation !!! Mono, Normal, Capa igual a dos U.S.A. (eles perto do Big Ben), e não dos U.K. ! ( que no caso, era eles nas docas !)

(foto do Dito-Cujo !)
Sim, as músicas são iguais:

Lado A (Ou 1, como queira)
1-Out In The Street
2-I Don't Mind
3-The Goods Gone
4-La-La-La-Lies
5-Much Too Much
6-My Generation

(Lado A)



Lado B (Ou 2)
1-The Kids Are Alright (aqui escrito com um "L" a mais)
2-Please, Please, Please
3-It's Not True
4-The Ox (que para um vinil mono está ótima, parece estereo)
5-A Legal Matter
6-Instant Party (Circles)

(Lado B)

o legal é que na parte de trás (vide foto) tem um textinho de 67' falando do who, como começou a carreira, os integrantes, e etc...
o interessante desse vinil são os erros, meu Deus, quantos deles !
erram o nome do Pete (Pete Towns7end) nos créditos de "Circles" e em "The Ox erram o nome do John, um erro "comum" (John Entwhistle), e no texto erram o sobrenome do Roger (Roger Daltry), porém, tirando tudo isso é um vinil que você pode se orgulhar de ter...pois é um vinil simples, mono, de 1967...que faz um grande barulho !!!
logo mais eu trago esse texto pra vocês Whooligans !
por hoje é só, espero que tenham gostado !

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Resenha: Amazing Journey Por: Ricardo César !

bem, o esquema é simples whooligan's ! o grande Ricardo, amigo meu por intermédio da Who Até O Osso do orkut, deixou eu publicar a resenha dele sobre o DVD novo do who: Amazing Journey: The Story Of The Who ! e...como eu, espero que vocês curtam !


Impressões sobre Amazing Journey

Olá companheiros!
Ontem não resisti e assisti ao primeiro DVD do pacote Amazing Journey: The Story of The Who. E como já disse: se for pra definir em uma única palavra essa palavra é fodástico!
Confesso que estava crente que seria um filme meia-boca, com alguma coisinha de interessante, já que bradaram aos 4 ventos as entrevistas com o Noel Gallagher, The Edge, Sting e Eddie Vedder. Achei que estas entrevistas iam dominar o filme, mas graças aos céus me enganei.
No geral eles falam em como conheceram a banda e como a banda influenciou o trabalho de cada um: Sting por exemplo fala que a maneira como Entwistle tocava sempre foi um desafio pra ele e ele se tornou um baixista em muito por conta do que via The Ox fazendo. The Edge diz que a primeira coisa que tentou fazer com um violão foi o riff de "My Generation". E Gallagher fala sobre a experiência de tocar com o Who no Royal Albert Hall.
Mas tudo isso que eu disse, representa uns 10 à 15% do que tem no filme. Legais são os depoimentos das mães de Keith e John. Interessante é ver o que o filho do John fala sobre como via o pai. E descartável é o que a irmã de Keith fala sobre ele... talvez esses 10 segundos sejam os mais piegas de todo o filme.
Somando os depoimentos de todos os parentes e amigos de membros do Who, incluindo Chris Stamp, Bill Curbishley e Dave Marsh temos aí mais 20 à 25% do filme, mas todos esses comentários e intervenções de amigos e familiares estão distribuidos pelo filme. Sempre relacionados à situação que esteja sendo retratada.Pete e Roger foram fiéis ao que pretendiam: ter a chance de contar a história do Who da sua própria maneira, usando seus fatos importantes. E assim saem amarrando as histórias, partindo do princípio na Inglaterra do pós-guerra e seus baby-booms.
A narrativa começa com John Entwistle e Pete Townshend. Conta como se conheceram e quando. Fala dos pais de Pete e do trabalho do pai de Pete durante a guerra. Qualquer semelhança com Tommy e Quadrophenia durante todo o filme, não é mera coincidência. Pete Townshend revela mais sobre sua vida em sua obra do que eu poderia imaginar...
Após esse breve prelúdio, John Entwistle é "dissecado", bem pelo menos seus primeiros anos até conhecer Pete na escola secundária. E também o quanto seu sobrenome era incomum para um músico. Variações foram tentadas, a mais interessante era "John Brown" (?), mas John não aceita qualquer delas.
Na verdade as biografias individuais dos membros são entrelaçadas. Pelo menos as de John, Pete e Roger são muito entrelaçadas quase não sendo possível definir onde começa uma e acaba outra talvez fosse a proximidade que os três tinham, morando próximos e frequentando a mesma escola. Keith é apresentado quase que a parte.
Feitas as biografias dos membros, começa a história dos 4 juntos. A escolha do nome, os primeiros dias. E algumas cenas inéditas do Railway Hotel em 64.
Fantástico é o rítmo da narrativa do filme e os recursos especiais utilizados. Tudo é muito rápido e quando se nota... acabou o filme.
E nesse ritmo é narrado o filme que é divido em 4 segmentos. Ou 2 discos, pois o início do filme é um show a parte. Mostra alguém tirando um disco (lp) da prateleira e colocando pra tocar (a capa do disco é a mesma do DVD); cada disco tem 2 lados e cada faixa do disco conta uma parte da história da banda. Algumas "faixas" tem nomes de músicas da banda como "Overture"; outras tem nomes como trechos das letras das músicas. E ao início de cada nova "faixa" o filme corta para a troca no LP. E mostra tb a troca de lado, pra continuidade. Simplesmente fántástico.
E no meio dessas histórias todas, imagens pouco ou nunca vistas mesmo por colecionadores xiitas... Outras cenas conhecidas são vistas por ângulos diferentes Exemplos:

* Quando se fala em Tommy, partes do show em Leeds são mostradas. O trabalho de recuperação nas imagens foi fantástico, pois não havia nenhum sinal de defeito na imagem. E mais é mostrado no final. Pena que seja mostrado tão pouco... se somar as duas vezes que aparece, dá uns 3 minutos no total.

* Quando se fala em Who Sell Out, são mostradas cenas de uma reunião onde se decide sobre os jingles que estão espalhados no álbum e no áudio gravado Pete designa John e Keith para gravar estes jingles. Também pode se ver alguns ensaios de como seria a capa do disco.* É mostrado em qualidade superior e com áudio original da época os diálogos do filme da gravação de 'Pictures of Lilly' (pra quem não conhece esse vídeo, tá aqui [ http://www.youtube.com/watch?v=xsHgd1KYTq4 ])

* A tour do Who pela França em 66 tem mais cenas. Pra quem já viu isso, cenas inéditas com audio do Who saindo para o Show e do outro show que o Who fez (os links para esses vídeos são: [ http://www.youtube.com/watch?v=HFunOfZGCAo ], [ http://www.youtube.com/watch?v=72tUTFYisaE ], [ http://www.youtube.com/watch?v=WB2yKuWKXAc ] e [ http://www.youtube.com/watch?v=K29X_OEXOj4 ]) Os shows não são mostrados na "íntegra, como nos links, mas algumas cenas são mostradas de ângulos diferentes.

* Um show do Who em Copenhagem, em 66 tb que eu nem tinha idéia da existência em vídeo, é mostrado várias vezes. Talvez seja o material mais mostrado.

* Tanglewood tem momentos mostrados em ângulos diferentes.

* O trechos do primeiro show de Kenney Jones é mostrado depois de se falar da morte de Keith Moon. Os depoimentos sobre sua morte são muito emocionantes

* Uma entrevista do Moonie jogando pinball em sua casa em '72 também é mostrada. Ilário e perturbador ao mesmo tempo. As cenas do Moon em sua casa em Malibu são ilárias, mas existe um flash triste... Aquelas cenas dele andando na praia fantasiado de pirata e de romano são mostradas de maneira "extendida" quer dizer, é mais do que os flashs que vemos em TKAA.

* Nos flashes de Keith quando morava em Malibu, vemos várias cenas como ele vestido de masoquista (+ do em TKAA) mas tristemente temos uma cena dele cheirando... pra mim foi muito triste ver aquilo, mas dava a exata noção do caminho que ele estava tomando e Doug Burtley dá um ótimo depoimento sobre isso.

* Who are you do show de Kilburn em 77 é mostrada quase inteira. Como o Pete errou nessa música, por Deus! Mas valeria esse show ser lançado, mesmo com todos os erros que eles cometeram.

Tommy é um capítulo a parte no filme. Talvez seja o ponto máximo do filme, já que mostra bastante coisa já conhecida da gravação do álbum. Todas as fotos mostradas desse processo são as mesmas que estão no encarte da Deluxe Edition de Tommy. Mas alguns fatos que aconteceram e algumas consequencias de Tommy para a banda não. Por exemplo a mudança em Roger tanto na voz quanto na postura de palco e como ele encarnou o personagem, querendo ser Tommy. Repare quando Pete conta esse causo. Algumas imagens das apresentações do Who no Metropolitan em NY (?) são mostradas. E o show no Coliseum de Londres tem cenas mostradas em ângulos diferentes.
Outros pontos marcantes do filme e da história do Who consequentemente é a citação ao ambiente tanto na gravação de Quadrophenia como de By Numbers. No caso de Quadrophenia algumas cenas do estúdio são mostradas e no caso de By Numbers o filme confirma muito do que é dito nos "linear notes" do álbum [ http://www.wdkeller.com/ByNumberslinernotes.pdf ]
A briga entre Roger e Pete durante a gravações onde os dois "saem na mão" é citada com relatos de John Entwistle (feito em 77/78 para o TKAA), Roger Daltrey e Pete Townshend (exclusivos para AJ.) Relatos sobre a morte de Moonie são feitos por Roger (um gravado em '79) e Pete. Nos dois casos foram feitos registros "novos" e ambos são muito emocionantes, principalmente o de Roger. O de Pete é indignado. A emoção de Pete é quando fala da morte de John Entwistle.
Também na morte de John é contada a versão "oficial" dos fatos em que ele foi encontrado com uma garota e com cocaína. Que ele tinha consumido cocaína, mas a morte não foi uma overdose e sim um ataque cardíaco por conta de um problema que já existia.
Trechos de alguns shows pós-Entwistle são mostrados mas apenas para servir de pano de fundo para dizer que Pete e Roger continuam "na luta". No final eles mostram Tea and Theatre de um show desse ano.
Um pouco antes disso é falado sobre a dissolução oficial da banda em '83 e Pete fala sobre como se sentiu com a repercussão dos últimos dois albuns (Face Dances e It's Hard) e o estresse que sentia naquela época. Uma imagem de '82 provavelmente, da "despedida" de Pete aos fãs, pode causar alguma irritação a fãs mais xiitas. Mas como a banda acabou voltando a ativa, essa irritação é irrelevante.
Tudo isso, pelo menos pra mim, já justifica cada centavo pago pelo DVD. Confesso que fiquei de queixo caido quando alguma coisa completamente inédita pra mim aparecia. Imagens de shows históricos como Leeds ou de shows q vc nem sabia que tinham registro em vídeo como Copenhagen; ou imagens que vc só tomou conhecimento a pouco tempo, mas surpreendem pelos ângulos diferentes como o Musichall de France. Dá pra se surpreender até mesmo com o material já conhecido que surpreende por ser mostrado em outros ângulos.
Ou o fato de comprovarmos que algumas lendas não são lendas e alguns fatos não passam de lendas já vale tanto quanto. Faltaram fatos, sim. A morte do primeiro assistente pessoal de Keith só é citada e pra mim esse é um fator importante, mas já foi bastante batido em outras ocasiões. Uma lenda comprovada é o encontro entre Pete e o pessoal do Sex Pistols (ou seria do Clash?) que resultou na música "Who Are You?". As fotos e o relato de Pete comprovam a veracidade do episódio! Outro ponto legal é um trecho de um cover dos Sex Pistols para Substitute. Uma interpretação bem particular, diga-se de passagem.

Se vc acha que Amazing Journey: The Story of The Who é um novo The Kids Are Alright ou um 30 Years of Maximum R&B Live expandido ou atualizado, onde fatos da história da banda são entremeados ou entrelaçados por clips completos de apresentações raras, conforme-se... vc não vai ter isso aqui.
Também se engana que esse seja um filme como "Who's Better / Who's Best" só com clipes em ordem cronológica.
Talvêz o paralelo mais próximo para Amazing Journey: The Story of The Who seja o filme sobre "Who's Next" da coleção 'Classic Albuns' (ST2). MAs multiplicado por 100 em interesse, e olhe que tudo o que escrevi até agora só se refere ao 1° DVD. O 2° vou assistir hj a noite...

Resenha do DVD 1 por Ricardo Cesár ! o link original é: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=7012658&tid=2570392533424469855&start=1

até mais whooligan's !

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Entrevista ! (1ª Edição)

bem...serei claro whooligan's ! há um belo tempo atrás, copiei uns textos (entrevistas e etc...) Do Who By Blogger (que Deus o tenha) e agora vou colocar uma por semana aqui no Action, pode ser ??? mais esse é aparte, e não do finado By Blogger !!!
qualquer coisa comentem que eu darei um jeito de diminuir o espaço de semana pra dias !


Quem é quem
O Prazer é Todo Seu - The Who por Rony Maltz



Antes de tudo, devo dizer que pesquisas profundas me fizeram chagar a uma inapelável conclusão: não há nada mais entediante de se ler sobre uma banda do que tecnocracias como história da vida do guitarrista do útero da mãe ao caixão ou influências musicais da iguana do vocalista.

Este tipo de informação só interessa a quem é fã apaixonado, e estes provavelmente já sabem tudo isso de cor e salteado. Resumindo, se você procura a história completa do The Who (sim, eu vou falar do The Who) e ficha técnica dos músicos, está perdendo seu tempo.

Por outro lado, se você gostaria de ser apresentado a quatro caras muito bacanas, um pouco mais famosos do que você, esta é a oportunidade perfeita. Noventa e cinco por cento do conteúdo abaixo é verídico.
Pode ser um jogo interessante tentar descobrir os cinco por cento restantes. Você vai ter uma grata surpresa!

Para os Leigos:
"O Who é a banda mais selvagem de todos os tempos, provavelmente ao lado do Led Zeppelin. Os dois são os pais da inadministrabilidade."(Bill Curbishley, maneger)


Roger Daltrey - canta
Pete Townshend - toca guitarra e canta
John Entwistle - baixo e vocais
Keith Moon - bateria, raros e toscos vocais



Isto é o que interessa. Qualquer coisa que você tenha visto ou ouvido falar antes ou depois desta formação é pura baboseira, e eu não me responsabilizo. Com vocês, The Who!



O cérebro

"Ver Jimi tocar me destruiu. É difícil ver alguém fazendo o que você sempre quis." (Pete Townshend, sobre Jimi Hendrix)


A cabeça pensante da banda. Responsável praticamente tudo o que o Who criou desde a sua formação, Pete Townshend pode ser considerado o líder do grupo. A briga pelo posto de líder seria, aliás, uma tônica durante toda a carreira do guitarrista, o que tornava sua relação com Roger Daltrey, auto-empossado através dos próprios punhos, um tanto complicada.

O rapaz, que sempre se destacou pelo nariz de tamanho bastante generoso, entrou na banda como um músico promissor para tomar o lugar de Daltrey no instrumento solo, e desde então começou a fazer história como um dos guitarristas mais estilosos de sua era.
Com a postura de palco admitidamente inspirada em Keith Richards, lead guitar dos Rolling Stones, Pete se esforçava em chamar mais atenção do que Roger Daltrey e Keith Moon no palco, e para isto criou todo um leque de movimentos muito peculiares ao tocar sua guitarra, estilo que o torna inconfundível em ação.

Sua adoração por parte do publico, entretanto, começou por acaso, enquanto o Who performava em uma pequena casa de shows na Inglaterra. Townshend acidentalmente deixou cair sua guitarra, fazendo-a se espatifar em vários pedaços no chão diante de uma platéia atônita, que nunca havia visto algo como aquilo antes.

O alvoroço foi geral, e desde então o guitarrista fez fama como 'o cara que destrói seu instrumento no final dos shows', e com a ajuda de Moon o The Who fez sucesso como a banda que tocava e depois quebrava tudo.

Esta atitude ainda levaria o quarteto a protagonizar uma interessante disputa com o guitarrista Jimi Hendrix, a quem Pete tinha admitida admiração.

O evento era o grande festival de Monterey, em 1967, e ambos pleiteavam a oportunidade de destruir suas guitarras frente a um grande público pela primeira vez. Após muita discussão nos bastidores a respeito de quem entraria para tocar primeiro, o The Who acabou ganhando o benefício na sorte, no lançar de uma moeda. Regozijado, Pete Townshend chocou milhares de pessoas ao estraçalhar seu instrumento ao término da apresentação da banda, e comenta-se que ele ainda teria alfinetado, irônico: "Ha! Quero ver o que ele vai fazer agora..." Pois foi nesta ocasião que, em um episódio que ficaria mundialmente afamado na história do rock, Jimi Hendrix ateou fogo a sua Stratocaster em meio a todo um ritual místico, frente a uma audiência ainda mais embasbacada. Foi quando eu vi que, enquanto a guitarra da lenda estalava e gemia envolvida pelas chamas, Keith Moon pulava como um louco e berrava com Pete, consternado: "Seu idiota! Como é que você não pensou nisso antes!?"Apesar da adoração do público, entretanto, Townshend só ganharia o devido reconhecimento como compositor com a sua ópera-rock Tommy, compilação unanimemente glorificada pela crítica que lançaria de vez o The Who para o estrelato.

Curiosamente, a idéia de se compor uma ópera-rock surgiu numa brincadeira, e desde então Kit Lambert, empresário da banda na ocasião, vendo futuro no que parecia ser uma piada, passou a encorajar veementemente o guitarrista a adotar tal projeto. O primeiro esboço contava uma história que passava no futuro, a respeito de um casal que desejava ter quatro meninas. Sua obsessão quanto ao gênero dos filhos era tão grande que, ao dar a luz a um menino, a mãe decide criá-lo como uma garota assim mesmo.

Financeiramente, porém, a banda não vinha bem, em parte devido aos constantes gastos com novas guitarras e jogos de bateria, e a necessidade de lançar algo novo rapidamente fez com que toda a obra fosse condensada em um único hit: I'm a Boy. O músico ainda comporia, antes do aclamado álbum Tommy, uma música que é uma espécie de história nos moldes da proposta da tal ópera-rock: A Quick One While He's Away, cujo nome foi proibido de ser usado como título para o disco devido a sua óbvia alusão ao sexo. Assim o garoto inseguro e complexado devido sua aparência física durante toda infância e adolescência se tornaria, além de um respeitado guitarrista e sensacional show man, um grande compositor. Desde então a idéia de produzir obras originais e grandiosas como Tommy nunca mais sairia da cabeça do músico. Álbuns megalomaníacos ainda haviam de ser compilados. Pete Townshend já estava para sempre contaminado por uma obsessiva mania de grandeza.



A fúria

"Já utilizei durante muito tempo produtos para poder usar meu cabelo curto e liso. Foda-se. Não é fácil ser um mod com cabelo encaracolado."(Roger Daltrey)

Roger Daltrey é o cara com mais presença de palco que eu já vi se exibir, além de ter sido, durante pelo menos duas décadas, o popstar com maior potencial assassino à solta por aí, depois do Marlyn Manson. Aos dezessete anos era o primeiro de sua classe em uma prestigiada escola na Inglaterra, quando resolveu largar os estudos e virar um rebelde, porque alguém disse para não fazê-lo. Construiu à lenha e muita imaginação sua primeira guitarra e decidiu ser astro de rock.

Daltrey é o tipo de sujeito que é invencível na porrada; na base da força ele montou sua banda, auto-intitulou-se o líder e saiu por aí tocando de graça em casamentos, festinhas de formatura e bar-mitzvás. O resto é história.

Roger delegou-se nos primórdios da banda o posto de guitarrista principal, pois ele apreciava o título. Só passou para os vocais quando o grupo adquiriu sua formação original, com o ingresso de Townshend e Moon. Verdade seja dita, Daltrey era tão bom cantando quanto tocando guitarra, o que, aliás, ele não sabia fazer.
Na época, contudo, o rock não precisava de alguém que sabia cantar, e a agressividade e a fúria do rapaz no palco preencheram na medida perfeita as necessidades do ideário mod para fazer o The Who explodir na Europa e, logo em seguida, nos Estados Unidos

Obviamente Roger Daltrey foi aperfeiçoando sua técnica, a ponto de hoje ser o vocalista que mais me dá tesão de ver cantar, não somente pela sua postura agressiva e provocante no palco, mas pela dramaticidade e o desabafo que ele exprime ao microfone. O timbre de voz inconfundivelmente rasgante se encaixa perfeitamente no rhythm and blues proposto pela banda, e sua interpretação inabalável, quase sufocante, consagrou o The Who como o grupo de melhor performance ao vivo de seu tempo.

Ele desenvolveu um estilo que lhe é marca registrada de suingar o fio do microfone descrevendo arcos no ar com o aparelho, muitas fezes fazendo-o zunir a poucos centímetros das cabeças dos fãs a beira do palco antes de retomá-lo na mão. Se eu não me engano, Roger estabeleceu seu recorde pessoal ao inutilizar dezoito microfones diferentes numa mesma noite. Depois disto você não mais o viu segurando um aparato que não estivesse envolto em no mínimo treze camadas de esparadrapo. Não era raro também vê-lo chocando-se contra amplificadores e espancando os pratos da bateria de Keith Moon.

Expulso da banda em razão da sua atitude demasiadamente violenta, o moço foi aceito de volta dias depois sob a promessa de controlar seu ímpeto demoníaco. Não foi muito depois disto que eu testemunhei, em pleno show da banda, o vocalista nocautear Townshend com um simples soco depois de ser ameaçado por uma guitarra e um nariz, em meio a mais uma fervorosa discussão entre Roger e Pete. Como eu disse, o cara é invencível na porrada.



O talento

"As pessoas costumavam me acusar de cair no sono no meio da música. Eu meio que deixava cair o ritmo. É muito chato para um baixista tocar isso porque é tudo em lá." (John Entwistle, sobre Magic Bus)

O melhor baixista de todos os tempos. 'The Ox' para mim, Sir John Entwistle para você, o gênio provavelmente é um dos mais injustiçados do ingrato mundo dos tocadores de baixo. Mas não que ele estivesse muito preocupado com reconhecimento.

Digamos que, enquanto Daltrey e Townshend se estapeavam para ver quem tinha o maior ego, John se contentava em ser George Harrison. Se o vocalista explodia em acessos de fúria e destruía microfones, o guitarrista saltava freneticamente e destruía guitarras e o baterista espancava enlouquecidamente sua percussão e destruía jogos de bateria, o baixista do The Who ficou marcado pela postura completamente estática no palco.

Entwistle fez escola ao mudar drasticamente todos os conceitos que se tinha sobre o baixo, tendo sido o primeiro músico a protagonizar um solo no instrumento, no grande hit My Generation. Em concertos ao vivo atuava quase que exclusivamente como o elemento a solar, enquanto Townshend marcava o ritmo na sua guitarra e Moon fazia o que bem entendia na sua percussão. Em estúdio os papéis se invertiam, e John passava a fazer a base enquanto o guitarrista se encarregava do som independente.

O baixista também servia como uma fonte alternativa na parte de criação, tendo sido responsável por praticamente todas as músicas do The Who que não eram de Pete. A mais famosa, ou pelo menos a mais original, soa tão sinistra quanto a própria figura de John no palco. A letra foi inspirada no temor do músico por aracnídeos, e diz respeito a uma aranha, pequena e peluda, que vai subindo pelas paredes do quarto para até ser esmagada na última estrofe. Assim surgiu Boris The Spider, a faixa mais pesada e carregada de graves do Who, e que me dá um bocado de medo.
Em um dos poucos episódios polêmicos em que se envolveu, 'The Ox' protagonizou, ao lado de Keith Moon, um dos boatos mais relevantes da década de sessenta. Consta que, em conversa em um pub londrino, o gênio e o baterista do Who espinafravam os demais integrantes da banda, Pete e Roger, por não pararem de brigar. Cheguei a ouvir que ambos consideravam deixar o The Who para se juntarem a um cara novo, um tal de Jimmy Page, que diziam ser capaz de fazer milagres com a guitarra.
O novo grupo se chamaria Led Zeppelin, dizia Moon, o autor do nome.No fim, parece, a mudança acabou não acontecendo, e John Entwistle se consagrou, no Who mesmo, como o baixista mais significativo do seu tempo. Consagrou-se, eu quero dizer, até o ponto em que um baixista pode se consagrar, já que confesso que, até pouco tempo, eu era mais um daqueles que se questionavam, ao assistir a um show antigo da banda: "porra, que diabos está fazendo aquele maluco parado ali no cantinho?"

O charme

"Sempre me chamaram de porco capitalista. Talvez eu seja, mas isso é bom para o jeito como eu toco bateria."(Keith Moon)

Inquestionavelmente o baterista mais excêntrico e empolgante de todos os tempos, Keith Moon entrou na banda para acirrar ainda mais a já bastante conflituosa disputa pela atenção do público do The Who. Com uma postura que nos remete a algo entre o Animal dos Muppets Babies e o Zed da Loucademia de Polícia, Moon provavelmente já pulverizou mais kits de bateria do que qualquer baterista já chegou a tocar.

E não bastasse a destruição total dentro do palco, desde cedo Keith adotou o saudável hábito de levar abaixo qualquer quarto de hotel em que ele chegasse a pisar. No clímax de uma destas orgias, um Cadillac acabou no fundo da piscina do Hollyday Inn, episódio que fez com que a banda fosse banida para sempre de qualquer hotel da rede. A bem da verdade, Keith sempre teve um pequeno problema com compassos. Compassos: é como são chamados os espaços de tempo que determinam o ritmo das músicas, regradamente ditados pelo percussionista.

Este pequeno nuance, contudo, fez com que a lenda se tornasse nada menos do que o baterista mais aclamado do mundo por tocar quase que exclusivamente de improviso, às vezes com viradas de baterias que duravam a música inteira, às vezes com arranjos inéditos embalados pelas mais variadas espécies de psicotrópicos. A bem da verdade, todo show do The Who não passava de um imenso solo de bateria para Keith Moon.

Ele também desenvolveu seu próprio método de usar as baquetas, ora segurando-as pelas pontas dos dedos encarnando um maestro a reger sua orquestra, ora usando-as de ponta-cabeça, estilo adaptado em razão da sua mania de lançar o assessório para cima no meio de viradas de bateria e retomá-lo dando imediata continuidade ao ato, seja como for que ele voltasse à sua mão.

Havia inclusive um suprimento extra de baquetas já disposto ao lado do cidadão, para que ele pudesse pegar uma nova sempre que a lançada para o alto voasse para longe do planejado, o que não era raro. Moon também tinha uma obsessão. Ele cria ser capaz de seguir os passos de Pete e sincronizá-los à sua batida seja o que for que esse fizesse no palco, o que impunha um interessante desafio.

Fato é que, segundo o próprio Townshend, Animal nunca perdeu um salto sequer do guitarrista."Por acaso há algum baterista na platéia?..." Eu lembro de ter sido um dos milhões que levantou a mão à pergunta de Pete Townshend. "..alguém que seja de um todo bom...?" e à isto três pessoas baixaram as mãos. Finalmente um cara do meu lado acabou sendo escolhido. Acontece que, horas antes, alguém teria dito ao Keith que dava um barato interessante tomar metade de um certo calmante com um copo de brandy, ou algo parecido. A isto, então, ele rebate: "Metade?! Eu sou Keith Moon!" e toma uma cápsula inteira de tranqüilizante para atirar em elefantes. Se eu soubesse disto antes, certamente não ficaria surpreso ao ver o rapaz sair carregado no meio do show após desabar inconsciente por cima dos tambores. Bem, isto é só para exemplificar um caso particular; o potencial destrutivo de Animal realmente evocava um sem número de situações inenarráveis.
Keith Moon, como haveria de ser, morreu antes de ficar velho e começar a fazer merda, podendo ser considerado, portanto, o integrante mais digno de ter pertencido ao grupo. Sim, a causa da morte foi overdose, mas de pílulas para dormir, que Keith estava tomando para tentar controlar o alcoolismo. Não me perguntem como. Talvez a maior prova da importância de Moon para o Who tenha vindo depois de sua morte, quando a banda passou a usar sempre que em shows nunca menos do que dois percussionistas para tentar obter algo parecido com o que Animal fazia sozinho atrás da bateria. A baderna também nunca mais foi a mesma. O charme tinha acabado.


Meet the new boss, the same as the old boss !!!


Os últimos versos de Won't Get Fooled Again, obra prima do derradeiro e para muitos o melhor álbum do The Who, Who's Next, encerrariam em tom de despedida a explosiva carreira da banda com sua formação original. O quarteto, que pode ser considerado o mais fiel representante do movimento mod na Europa da década de sessenta, se retirava do cenário musical e encerrava uma era deixando o prenúncio de que, apesar de guerras cessarem e regimes sucumbirem, a parafernália política mundial seria substituída por outra não menos problemática, e os governantes trocados por novos não menos manipuladores, embora agora sob diferentes disfarces.Se você conseguiu ter sua atenção presa durante dez minutos e ainda não sabe a data do surgimento da banda, o nome de todos os compactos, faixas e menagers durante mais de vinte anos de R&B (e não foram poucos), e mesmo assim não está nem um pouco aborrecido com isto, o meu objetivo está atingido. Vou deixar, portanto, que um dos poucos homens capazes de explicar o Rock & Roll encerre para mim:

"A banda deveria ser um reflexo do que o público estava sentindo. Se funcionou, se o The Who fez sucesso, isto foi contra toda a espécie de lógica. Nós éramos um horrível, feio, barulhento, desmazelado, arrogante, intimidador e inconsiderável bando de babacas. Se nós nos tornamos um sucesso... eu acho que, se nós fizemos sucesso, é porque era exatamente isso o que o público queria."(Pete Townshend)

1ª postagem

nem sei como começar...mais acho que com esse blog, nós podemos criar um novo QG, como o finado Who By Blogger !

e pra aquecer...uma tradução, e amanhã (com sorte), vou postar uma entrevista !


The Who - Circles


Círculos, minha cabeça está girando em círculos
Minha mente foi pega em um redemoinho
Me arrastando pra baixo


O tempo vai dizer se eu peguei o caminho pra casa
A tontura vai fazer meu pé andar de volta
De volta pra você


Tudo que eu faço, penso em você
Não importa o quanto eu tente,
não consigo me esquivar


Esses círculos,me levando de volta pra você
Dando voltas e voltas e voltas e voltas
e voltas e voltas e voltas e voltas


Girando e girando como um tolo eu vou
Mais fundo e mais fundo na piscina eu vou
Me arrastando pra baixo


Tudo que eu faço, penso em você
Não importa o quanto eu tente,
não consigo me esquivar.


Círculos, me levando de volta pra você


Há uma coisa que pode matar a dor
(de perder você)
Mas me deixa tão tonto que eu logo estou caminhando de volta
De volta pra você
O tempo vai dizer se esses sonhos estão perto da realidade
Não sei porque eu fui embora,
estou voltando
Voltando pra você...